Dia desses, o programa Fantástico, da Rede Globo, levou ao ar
uma reportagem, que inclusive contou, supreendentemente, com o apoio das
afiliadas locais, tratando dos subsídios e vantagens exorbitantes que os deputados do Maranhão e do Amapá recebem.
A repercussão imediata (imediata!), como
não poderia ser diferente, foi enorme, com o Bom Dia Brasil e o Jornal
Nacional do dia seguinte voltado a tocar no assunto com grande destaque. Em
resposta, houve uma tímida reação de alguns poucos deputados das duas citadas
Casas Legislativas e foi só. Depois de uns dois ou três dias, não se falou mais
no caso.
No domingo seguinte, a reportagem do Fantástico focou o Estado de Pernambuco,
revelando, com estardalhaço, que 86% (isso mesmo: 86%!) das Prefeituras
pernambucanas têm, em suas folhas de pagamento, de defuntos a gente (bem viva e
esperta, por sinal) que mora a mais de 3.000 quilômetros de distância, conforme
mostram relatórios do Tribunal de Contas daquela unidade federativa.
Ficou a sensação, após a veiculação
dessas duas reportagens, de que, nesse País, não há qualquer unidade do Poder
Legislativo ou do Poder Executivo onde não se cometam pecados em abundância e
de toda a natureza.
E aí vem a inafastável pergunta:
corrigidas as, digamos educadamente assim, distorções denunciadas pelas
reportagens do Fantástico, o Brasil atingiria um nível de excelência, em termos
de moralidade pública, semelhante ao dos países do chamado Primeiro Mundo? A
resposta, infelizmente, é um rotundo não.
Primeiro, porque as mazelas dos nossos
poderes Legislativo e Executivo (deixemos de lado o Poder Judiciário, até
porque as denúncias do Fantástico
ainda não chegaram nele) não se resumem, evidentemente, aos disparates
revelados pelas aludidas reportagens. Segundo, e principalmente, porque, ainda
que fossem somente esses (mas não são, que fique bem claro), persistiria,
majestosamente de pé, a multissecular “fábrica” desses escândalos e absurdos: a
complacência, quando não a própria conivência, justamente de quem, em tese,
poderia evitar tudo isso – o eleitor.
Isso mesmo, o eleitor, essa pessoa dada a
acreditar em quase tudo que ouve; acostumada, desde sempre, a ser enganada e
tripudiada; que, passado pouco tempo das eleições, logo se esquece, como que
movida por uma visceral compulsão para o alheamento, em quem votou no último
pleito. É evidente, esclareça-se, que não se está generalizando, mas que essa
postura de desinteresse para com o funcionamento das instituições públicas acomete
a imensa maioria do povo/eleitor brasileiro, isso é verdade.
Não adianta, portanto, culpar apenas os
nossos parlamentares e gestores públicos por agirem com tamanho, fiquemos por
aqui, desapego à coisa pública. Afinal, em última análise, eles, no fundo, somos
nós, já que, como assim decidimos democraticamente nas indevassáveis cabines de
votação, foram eleitos exatamente para nos representarem, para falarem e
decidirem em nosso nome. Para governarem nossas cidades, nossos Estados, nosso
País. Para, enfim, cuidarem do nosso destino.
Dá para mudar essa cruel e perversa
realidade? Se não dá para mudar substancialmente, tipo da água para o vinho,
dá, no entanto, para melhorar bastante esse cenário desolador. Mas é preciso
que, antes de qualquer coisa, mudemos nós. Se continuarmos votando da forma
como historicamente temos votado, avaliando as candidaturas apenas na
superfície; votando, para resumir, como se o ato de votar não fosse algo sério
e importante, dá para apostar que reportagens como essas do Fantástico não terão data para acabar.
Com esse despretensioso artigo, um tanto quanto diferente daqueles que costumamos escrever, julgamos estar dando, desde já, a nossa humilde contribuição, como advogados que somos, inclusive com atuação na seara eleitoral, ou seja, como alguém sobre cujos ombros também repousa o dever de pregar o extraordinário poder que o voto tem, para que, nas próximas eleições, vote-se com mais consciência, responsabilidade e cidadania.
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