Novo Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Carlos Ayres Britto tomou posse disparando em seu discurso um
petardo que nem a Corregedora Geral do CNJ, Ministra Eliana Calmon, conhecida
pelo ímpeto irrefreável e pela contundência de sua manifestações, ousou dizer:
“Mais que impor respeito, o Judiciário
tem que se impor o respeito”.
Tem-se
ouvido falar, aqui e ali, que durante a presidência de Ayres Britto, que terá a
curta duração de sete meses, o STF adotará uma postura ativa e progressista.
Aí, eu pergunto: quando, senão de pouco tempo para cá, o Supremo, buscando
distanciar-se da fama (até então merecida) de tribunal ultraconservador,
resolveu tomar decisões realmente polêmicas e corajosas, em sintonia com o
alarido das ruas, por sinal, tão ao gosto do novo presidente da Corte?
Ou
será se a legalização do aborto de anencéfalos, a declaração da
constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e o reconhecimento constitucional da
união homoafetiva, para se ficar só com esses três exemplos, francamente
impensáveis até pouco tempo atrás, não inauguraram uma nova etapa na história
do Supremo Tribunal Federal?
E
olhe que, à exceção do caso da Lei da Ficha Limpa, a posição da Igreja, para se
mencionar só uma das poderosíssimas instituições que o Supremo bateu de frente,
permaneceu a mesma, isto é, diametralmente contrária à aprovação do aborto de
anencéfalos (como, de resto, de qualquer tipo de aborto) e da união de pessoas
do mesmo sexo.
Portanto,
a Corte que o Ministro Ayres Britto presidirá até que complete 70 anos, e se
aposente compulsoriamente, já é, há algum tempo, inequivocamente ativa e
progressista, na medida do possível, evidentemente. Temos, sem nenhum exagero, um
novo Supremo. Um tribunal, para resumir,
mais identificado, como já se disse acima, com as aspirações do povo, porém, o
que é lamentável, menos alinhado com os ditames da Carta Magna. É aquela velha
história: é impossível fazer um omelete sem quebrar os ovos.
Ao
Supremo, como se sabe, cabe a guarda da Carta Republicana. É obrigação sua,
portanto, não deixar que a firam, sem prejuízo, contudo, da obrigação, quiçá
ainda maior, que tem de, ele próprio, não feri-la jamais.
Ferindo-a,
não importa a relevância social do motivo ou as excepcionais circunstâncias do
momento histórico, o Supremo, a um só tempo, desrespeita e desprestigia a si
mesmo (já que dele, como mal vigilante, dir-se-á que afrouxou a guarda) e quebra
o Contrato Social, fomentando, por consequência, o caos e a insegurança
jurídica.
O Ministro Ayres Britto, para
provável deleite de muitos, presidirá, com toda a certeza, julgamentos
memoráveis, com destaque para o caso do Mensalão. Tomara que as feridas que,
nesses julgamentos, possam eventualmente vir a atingir a Constituição Federal,
não se transformem em chagas abertas. Sorte, enfim, ao novo presidente, que
inteligência e força de vontade ele tem de sobra para desempenhar tão nobre
missão.
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